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Diogo Coelho de Moura

Nasceu em Beijós faz hoje 215 anos, no mesmo dia em que a mãe faleceu. Aos três anos perdeu também o pai, ficando ao cuidado da madrasta, eventualmente com ajuda das tias maternas. Teve formação nas letras, como se depreende pela bela caligrafia que apresentava por volta dos 14 anos. Alistou-se no Regimento de Milícias de Tondela, donde passou para o "exército do usurpador" (D. Miguel), incorporando as forças liberais em 1833. Terá saído do exército um ou dois anos depois, fixando-se em Beijós. É já casado com Maria José da Alegria, nascida em Midões, mas baptizada em Cabanas, que assume protagonismo no envolvimento de Beijós no chamado Cisma, o qual deve ser entendido no quadro da oposição popular do mundo rural ao novo regime liberal. Efetivamente, em Beijós e arredores, há vários pontos de contacto entre estas 'lutas eclesiásticas' e os inúmeros episódios de violência e terror envolvendo partidários do cartismo e do miguelismo.


A figura acima mostra as relações de parentesco entre alguns dos protagonistas da resistência beijosense às ordens administração eclesiástica de Viseu, durante o exílio do Bispo D. Francisco Alexandre Lobo:

  • Maria Balbina Marques Coelho de Moura (prima direita de Diogo, sendo ambos netos de Tomásia Coelho de Moura) casou com José Rodrigues Machado do Carmo, natural da Aguieira, tendo como morada a que, ainda hoje, é provavelmente a maior casa de Beijós, estando atualmente devoluta na posse de herdeiros do meu avô Duarte e do Zé d'Aguieira. Os dois filhos mais velhos tornaram-se padres e estiveram envolvidos na elaboração de textos para os jornais pró-realistas. Textos esses que foram fundamentais não só para a compreensão que hoje temos dos "terríveis" acontecimentos, mas também para que o caso de Beijós tenha chegado à Câmara dos Deputados, ajudando a que o desfecho tivesse caraterísticas únicas.
  • Uma carta de um desses padres a um deputado, revelada em segunda-mão pelo jornal Ecco, relata o assassinato de João Peixoto Coelho, meio-irmão de Diogo. João era pro-realista e tinha apoiado o Corpo de Voluntários Realistas.
  • Um tio da Maria Balbina (irmão do pai) foi "preso por motivo de religião nas cadêas d’Oliveira do Conde", onde viria a falecer.
  • A viúva do falecido preso era sobrinha do Pe. Simão José Pereira do Amaral, o Vigário que foi "esbulhado" dos seus rendimentos e que, aparentemente, terá clandestinamente oficiado durante o cisma.
  • Quanto a Diogo, era o regedor da freguesia durante o período mais conturbado da 'ocupação' militar de Beijós e teve um papel fundamental no desfecho da contenda entre a autoridade eclesiástica e os beijosenses cismáticos. Segundo Ferreira (2002), dentre as dezenas de paróquias onde a administração eclesiástica requisitou o exército para impor o pároco e garantir a sua segurança e a exclusividade dos seus ofícios, Beijós foi a única onde a autoridade não se conseguiu impor e as coisas só acalmaram quando foi nomeado um pároco aceite pela população. Tal foi possível por este desfecho se ter dado num contexto institucional mais pacífico (normalização das relações com o Vaticano e adesão de alguns miguelistas à luta eleitoral), mas também pela determinação dos beijosenses e, em particular, pela habilidade política e negocial do regedor, que ultrapassou a Administração do Concelho e estabeleceu um canal direto de comunicação com o Governador Civil.

Órfão de mãe à nascença e de pai aos três anos, Diogo viria a lidar com a morte de três filhos adultos:

  • José Coelho de Moura, nascido em 1845, era estudante e provavelmente destinado a padre, mas acabou por abandonar os estudos e integrar o Regimento de Infantaria 18. Qualificado pelos superiores como "mau soldado, entregue a vícios", ficou doente e saiu por incapacidade física em Maio de 1868, vindo para casa dos pais, onde morreu no mês seguinte, com apenas 22 anos.
  • Margarida Perpétua Coelho de Moura, nascida em 1841, faleceu com 34 anos, tendo deixado quatro órfãs, com idades entre um e dez anos.
  • Ana Coelho de Moura, que casara com o viúvo Albino Pereira de Almeida em 1878, faleceu em 26-2-1879 com 34 anos, em resultado de complicações pós-parto.

Conta-se que, perante a consternação de Albino, Diogo ter-lhe-á dito de forma bem audível por todos os que na ocasião velavam a falecida, que, donde veio aquela, havia mais disponíveis para casar. A verdade é que, passados quatro meses, Albino desposou a cunhada Maria da Encarnação Coelho de Moura, de 24 anos (Albino teria cerca de 60). Três semanas após este casamento, Diogo Coelho de Moura falecia em Beijós no dia 2-9-1879, deixando cinco filhas sobrevivas:

  • A dita Maria da Encarnação, que continuaria casada com Albino por 15 anos, casando depois com João Cardoso Ferrão Castelo Branco.
  • Maria de Nazareth, casada com Luís Marques da Costa Carvalhal.
  • Guilhermina Coelho de Moura, casada com Bernardino Pais do Amaral.
  • Efigénia da Alegria e Moura, que viria a casar em 1886 com Abílio Coelho de Moura. Ficou viúva aos 33 anos, tendo de criar sozinha cinco filhos, entre os quais o meu bisavô António Coelho de Moura.
  • Clara da Alegria Coelho e Moura, que viria a casar em 1886 com Adelino Augusto Pereira Montenegro, sendo o primogénito deste casal, João Baptista Pereira, o próximo 'desconhecido' deste blogue.

Comentários

  1. Quem foi Bernarda Delfina Peixoto Tavares?
    No quadro as datas/anos ajudaria a situar (se possível).
    Esta Bernarda não tem nada a ver com a Bernarda Peixoto, minha bisavó, bem como do Luís Peixoto.

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    Respostas
    1. Bernarda Delfina nasceu em 1784 e faleceu em 1853. Era irmã de João Peixoto da Silva (1788-1851), tido como presumível pai do teu bisavô Francisco

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  2. Excelente Primo!!!👏👏👏

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